sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

OCEANOS SATURADOS DE DIÓXIDO DE CARBONO


Oceanos estão saturados de dióxido de carbono, diz pesquisa
Segundo estudo publicado na Nature, apesar do crescimento na quantidade total de carbono absorvido, capacidade de retenção dos mares está diminuindo
REDAÇÃO ÉPOCA, COM AGÊNCIA FAPESP 4/12/2009 -
Um estudo realizado nos Estados Unidos estima que os oceanos absorveram um recorde de 2,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono resultantes da queima de combustíveis fósseis em 2008. Com o aumento na quantidade total de emissões, entretanto, a proporção absorvida pelos oceanos desde 2000 caiu em cerca de 10%. Liderado por Samar Khatiwala, da Universidade Columbia, a pesquisa foi publicada na edição desta quinta-feira (19) do periódico científico Nature. Os oceanos têm um papel fundamental na regulagem climática, retendo cerca de um quarto de todo o dióxido de carbono lançado pela ação humana.
Agora, segundo o estudo de Khatiwala, os oceanos chegaram ao limite, tanto físico como químico, de sua capacidade de absorver o dióxido de carbono. Modelos climáticos desenvolvidos anteriormente já haviam previsto essa diminuição, e esta nova pesquisa quantifica a queda. “Quanto mais dióxido de carbono, mais ácido fica o oceano, reduzindo a capacidade de manter o CO2”, disse Khatiwala. “Por causa dessa consequência, com o tempo o oceano se torna um repositório menos eficiente. A surpresa é que podemos estar diante das primeiras evidências disso.”

Segundo o estudo, o acúmulo de carbono industrial nos oceanos aumentou enormemente na década de 1950, à medida que os oceanos passaram a tentar acompanhar o ritmo acelerado das emissões em todo o mundo. As emissões continuaram a crescer e, no ano 2000, atingiram tal volume que os oceanos passaram a absorver menos CO2 proporcionalmente, ainda que o total em peso tenha continuado a aumentar. Os oceanos mantêm cerca de 150 bilhões de toneladas de carbono industrial, um terço a mais do que em meados da década de 1990.
Abaixo matéria de março de 2009-12-07
Oceanos estão tão ácidos como na era pré-histórica
TER, 10/03/09
POR JARINI |
A poluição deixou os oceanos tão ácidos quanto na era dos dinossauros.
Caso as emissões de gás carbônico continuem no padrão atual, o mundo deve enfrentar uma onda de extinção em massa. Recifes de corais e animais com conchas devem ser os mais afetados. Alerta foi feito em um estudo apresentado hoje, na Dinamarca, durante a abertura de um encontro paralelo do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC).
A abertura da reunião foi marcada pelo pessimismo. Muitos dos cientistas participantes afirmam que as previsões feitas no último relatórios do IPCC, em 2007, não foram precisas. O futuro vai ser muito pior do que foi divulgado. Conter o aumento de temperatura do planeta em apenas dois graus parece ser uma realidade cada vez mais distante. O estudo sobre a acidez nos oceanos seria apenas um exemplo de previsões que não foram contempladas pelo último relatório do painel e devem ser analisadas esta semana.
A pesquisa divulgada hoje é da Universidade Bristol, na Inglaterra. Uma prévia publicada pelo jornal The Guardian mostrou alguns aspectos assustadores sobre como o aumento da acidez nos oceanos deve modificar a vida no planeta. Os pesquisadores mostram que a atual taxa de acidificação dos oceanos só é comparada a níveis pré-históricos, algo como 65 milhões de anos atrás, quando uma grande liberação de gases do efeito estufa por atividades vulcânicas causou a extinção em massa das espécies de águas profundas. A vida marinha do Ártico e da Antártica já são afetadas por essa poluição. Os ruídos causados por navios e sondas marinhas também estão sendo amplificados pelo aumento da acidez. Esse barulho afetaria diretamente espécies migratórias como tartarugas, baleias, golfinhos e atuns.
Os cientistas afirmam que caso se as emissões de gás carbônico não forem contidas os oceanos vão se tornar locais inóspitos e com pouca biodiversidade. Um problema para um mundo onde grande parte da pesca e alimentação depende dos mares. “Corremos o risco de sermos lembrados como uma civilização que teve a sabedoria para desenvolver alta tecnologia, mas não desenvolveu sabedoria para usá-la”, disse Ken Caldeira, especialista em oceanos do Instituto da Califórnia.
(Juliana Arini)
12/08/2008 - 17:06 - ATUALIZADO EM 30/05/2009 - 01:30
O mar vai ficar sem peixes?
Cientistas dizem que o efeito estufa deixa o oceano mais ácido. E isso destrói a vida marinha
ALEXANDRE MANSUR
LARA HANSEN

POSIÇÃO - Cientista-chefe do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) nos Estados Unidos. Monitora áreas naturais das Ilhas Fiji, Indonésia, Belize e Filipinas

O QUE FEZ - Trabalhou na Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA

A bióloga Lara Hansen é cientista-chefe do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) nos Estados Unidos e uma das maiores especialistas no impacto das mudanças climáticas na vida aquática. Quando criança, passava o verão nadando em lagos cercados por florestas no Estado do Michigan, onde cresceu. “Não gosto nem de pensar que meu filho, hoje com 2 anos, não vai poder nadar naqueles lagos quando crescer”, diz. Lara sabe que, segundo as pesquisas, o aquecimento do planeta poderá reduzir o volume de água disponível. Mas sua maior preocupação é com os oceanos. Eles estão absorvendo o excesso de gás carbônico que jogamos na atmosfera. E ficando mais ácidos. Se a tendência continuar, segundo alguns estudos, até o fim deste século apenas lulas e águas-vivas sobreviverão no mar.
ÉPOCA – Como o aquecimento global pode afetar a vida nos oceanos?
Lara Hansen – Os oceanos estão numa situação bem complicada, por causa de dois processos centrais. Primeiro, a temperatura do oceano está subindo. Segundo, a maior parte do gás carbônico que lançamos na atmosfera é absorvida pelo mar, e não pela Amazônia, como as pessoas pensam. No mar, esse gás vira ácido carbônico. É um ácido fraco. Mas sua concentração está aumentando tanto que os oceanos estão ficando mais ácidos. Esse processo preocupa porque, mesmo depois que pararmos de jogar tanto gás carbônico de nossas chaminés, o oceano vai continuar absorvendo o excesso da atmosfera.
ÉPOCA – Qual é a conseqüência disso?
Lara – Como bióloga marinha, você aprende nas aulas básicas de Oceanografia que a acidez do oceano é estável pela quantidade de água envolvida. Tínhamos medo de mudar a acidez de lagos e rios por causa da chuva ácida, que é outro problema. Mas ninguém pensava que a acidez dos oceanos poderia ser alterada. Nós temos alguns estudos de lagos, mas espécies marinhas são muito diferentes, porque elas lidam com níveis de acidez estáveis, e simplesmente não sabemos o que isso vai significar. Medições feitas entre 1751 e 1994 mostram que, nos últimos 50 anos, o grau de acidez do mar, em pH, aumentou 0,1 ponto. Isso é medido em escala logarítmica. É como se tivesse aumentado 13 vezes. Até o fim deste século, a projeção é para um aumento de 300 vezes na acidez. Em determinado momento, a água fica tão ácida que dissolve o carbonato de cálcio e impede a formação de conchas.
ÉPOCA – Quando isso vai começar a acontecer?
Lara – Ainda não sabemos. Algumas projeções mostram que, se o processo continuar, em 2065 os recifes não poderão mais formar seu esqueleto. Pode ser antes. Os crustáceos, como camarões e lagostas, também poderão ser afetados. Eles terão dificuldades para reunir as substâncias necessárias para construir seus esqueletos, a calcita e a aragonita. Há estudos recentes feitos com corais. Mostram que, a partir de certo ponto, eles deixam de se formar e até começam a se desmanchar na água.
ÉPOCA – Você poderia imaginar um oceano sem camarões?
Lara – Não. Eu não posso imaginar um oceano sem carbonato de cálcio. A vida no mar é baseada nessa substância. A cadeia alimentar depende dela. Peixes têm esqueleto. Tudo utiliza carbonato de cálcio, seja um esqueleto interno ou externo. Até alguns tipos de fitoplâncton precisam de cálcio. Só espécies como esponjas provavelmente sobreviveriam sem ele. Só que essas espécies têm outros limites, como a temperatura. Segundo um estudo da Universidade de San Diego (nos Estados Unidos), no ritmo atual, um dia o mar todo terá apenas lulas e águas-vivas.
ÉPOCA – Será que esses estudos não estão desprezando a capacidade que as espécies têm de se adaptar?
Lara – O problema é que essas mudanças estão acontecendo rápido demais para os mecanismos de mutação e seleção natural. A adaptação evolutiva é um processo mais lento. Você pode esperar que as espécies tenham alguma habilidade inerente para se aclimatar a mudanças, mesmo sem modificações genéticas. Mas a velocidade do que estamos vendo agora é muito intensa. Vimos isso em um projeto em parceria com o pesquisador Jay Malcom, da Universidade de Toronto, no Canadá. Estudamos grandes regiões naturais do planeta para avaliar em que velocidade as plantas terão de migrar para zonas mais frias e compensar o aquecimento climático. Elas não andam, naturalmente. As espécies lançam sementes, que vão brotando em áreas mais quentes, acompanhando a mudança do clima. No último período glacial, entre 50 mil e 14 mil anos atrás, as espécies conseguiram se deslocar no máximo 500 metros por ano. Acontece que, na maioria das regiões que analisamos, o aquecimento será tão brusco que as plantas teriam de migrar mais rápido que isso. Em 70% das regiões estudadas, as árvores teriam de migrar 1.500 metros por ano. Não há registro de nada parecido no passado. Nem nos estudos paleológicos de mudanças climáticas que ocorreram há milhões de anos.
Os manguezais ajudam a proteger os corais. Também reduzem os danos das tempestades

ÉPOCA – Por que essas árvores não se adaptaram ao novo clima?
Lara – A adaptação leva muito tempo porque os genes dos adultos têm de ser selecionados pela incapacidade de reprodução de sua prole. Para isso, você tem de atravessar um ciclo de vida completo. Espécies com ciclo curto, como bactérias ou tipos de capim, podem se adaptar mais rápido. Mas, se você pensar em sequóias, com milhares de anos de idade, ou tartarugas, com centenas de anos, fica mais difícil. As próximas gerações dessas espécies levam tanto tempo para entrar em idade reprodutiva que um pequeno ganho genético não consegue compensar a mudança no clima.


ALIMENTO
Atuns no mercado de Tóquio. A acidificação do mar poderá afetar a estrutura óssea dos peixes
ÉPOCA – Essa deterioração dos oceanos já pode ser percebida de alguma forma?
Lara – Eu já vi isso. Quando fiz meu pós-doutorado na Flórida, estudei duas espécies de corais. Elas eram esparsas no Caribe. Mas você podia achá-las e até coletar pedaços para fazer análises. Agora, as duas espécies estão na lista de ameaçadas. Praticamente desapareceram. Outro dia tentei usá-las para ilustrar uma apresentação. Não consegui encontrar nem fotos boas desses corais. Eu não podia mergulhar para fotografá-los porque ninguém mais os encontra. E eram espécies que constituíam a maior parte da estrutura dos recifes de corais. As principais ameaças aos corais são a temperatura em elevação no mar, a susceptibilidade crescente a doenças e a força dos furacões. E hoje sabemos que essas três coisas estão relacionadas às mudanças climáticas.
ÉPOCA – Ainda dá para fazer algo para salvar os corais?
Lara – Mesmo que o aquecimento global seja, em alguma medida, já inevitável, é possível reduzir ou adiar os danos aos corais. Estamos restaurando ou protegendo as áreas de manguezais nos locais onde fazemos pesquisas. Primeiro, os mangues produzem compostos orgânicos que reduzem a incidência de radiação ultravioleta, um dos fatores de descoloração dos corais. Os mangues também diminuem o escoamento de nutrientes da terra firme para o mar. Esses nutrientes, em altas concentrações, incentivam a proliferação de algas que prejudicam os corais.

ÉPOCA – Por que se fala tanto na conservação dos corais? Eles são tão importantes ou é mais uma questão estética?
Lara – É nos corais que se reproduz a maior parte das espécies de peixes, inclusive os que têm valor comercial. Espécies ameaçadas, como as tartarugas marinhas, também dependem dos nutrientes que os corais fornecem. Além disso, as formações de corais ao longo da costa criam uma espécie de barreira que protege o litoral das tempestades. Existem estudos recentes mostrando que, após o tsunami de 2004, as comunidades que tinham recifes de corais bem protegidos ou mangues conservados conseguiram se recuperar melhor que as outras. Os corais e os mangues reduziram o impacto destruidor das ondas do tsunami.

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