segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Duracell contamina água

Perigo na água Edição 13


Poços artesianos da região de Jurubatuba, em São Paulo, estão contaminados por solventes e metais pesados
Por Matilde Leone
A contaminação ambiental por resíduos industriais e produtos químicos nas águas do aqüífero da região de Jurubatuba, em São Paulo, é um problema de longa data. Foi objeto até de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) constituída pela Assembléia Legislativa de São Paulo no final de 2008 e encerrada em abril de 2009. Mas, segundo a assessoria do deputado estadual que presidiu a CPI, Rodolfo Costa e Silva (PSDB), o tempo para investigar com mais rigor foi insuficiente. Os danos ambientais provocados pela contaminação podem chegar ao lençol freático mais profundo e causar doenças graves e até câncer.

Antes mesmo da CPI, a área de Jurubatuba começou a ser investigada pela CETESB em 2001, depois da auto-denúncia da Gillette do Brasil (hoje Proctors and Gambles do Brasil) de contaminação dos poços artesianos com solventes clorados e outros metais pesados na área onde está instalada a indústria. Antes da Gilette, funcionava no local a empresa Duracell. "A contaminação foi originada a partir das atividades da antiga proprietária do terreno, a empresa Duracell, que realizou o desengraxe de tampas de baterias com solventes clorados, entre 1984 e 1993", informa o engenheiro da Cetesb Vicente Aquino Neto. A Gillete foi autuada para realizar uma investigação detalhada da contaminação e outros estudos para viabilizar a remediação da área.

Em 2003, após várias pesquisas, foi constatada alteração da qualidade dos poços freáticos da região. No ano seguinte, a Cetesb ampliou a pesquisa, verificando a presença de solventes clorados na água do lugar e a possível contaminação de outras áreas. Diante disso, a companhia procurou o DAEE e solicitou providências necessárias para resolver a questão, alertando para o fato de que há contaminação tanto do aquífero superficial quanto do profundo. Os poços foram lacrados pela Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, e proibida a perfuração de novos. Se não fosse essa medida, as pessoas poderiam ainda estar bebendo daquela água.

Segundo a Cetesb, essa contaminação vem de décadas e a prática de perfuração de poços clandestinos agrava a contaminação, disseminando poluentes como metais pesados e solventes, que à medida que se decompõem tornam-se mais tóxicos. E mais: sobre um subsolo de risco estão instaladas inúmeras fábricas.

Estudos mostram que a região sempre teve uma forte vocação industrial, desde o final dos anos 40 e inícios dos anos 50, com a implantação no local de diversas indústrias de médio e grande porte, principalmente com atividades químicas e metalúrgicas. Foi classificada no passado como Zona de Uso Predominantemente Industrial - ZUPI 131.

As ZUPIs, segundo lei municipal, são áreas destinadas, preferencialmente, à instalação de indústrias cujos processos, submetidos a métodos adequados de controle e tratamento de efluentes, não causem incômodos sensíveis às demais atividades urbanas e nem perturbem o repouso noturno das populações.

Aquino, da Cetesb, relata que, em função das altas concentrações de contaminantes observadas nos poços de monitoramento constantes dos relatórios de investigação apresentados pela Gilette, a Cetesb decidiu realizar a amostragem e análises químicas das águas subterrâneas em poços de abastecimento localizados na vizinhança da área. Em função do seu posicionamento, foi realizada em dezembro de 2003, amostragem em três poços profundos localizados a jusante da área sendo que, em um deles, foi observada contaminação em concentração acima dos limites de potabilidade, e os resultados foram encaminhados para a Secretaria da Saúde Estadual e Centro de Vigilância Sanitária Municipal, para que as providências cabíveis.

Em dezembro de 2004, a Gilette apresentou novo relatório de investigação, e os resultados apontaram a existência de contaminação da área de sua propriedade.

"A Cetesb passou também a realizar campanhas de amostragem e análises químicas de águas de poços de abastecimento localizados em um raio de 500 metros a partir da Gillete, inclusive disponibilizando telefone 0800, para recebimento de solicitação de amostragem pela população, em poços não constantes no cadastro do DAEE", afirma Aquino.

As campanhas confirmaram uma contaminação generalizada da água subterrânea profunda da região, certamente originada em mais de uma fonte de contaminação. Os principais contaminantes identificados são os solventes halogenados Cis-1,2-Dicloroeteno, Tetracloroeteno, Tricloroeteno, Trans-1,2-Dicloroeteno, 1,1-Dicloroetano e 1,1-Dicloroeteno e os metais Manganês, Chumbo, Cádmio e Cromo (Vet Box).

O fato, segundo Vicente Aquino, foi imediatamente comunicado pela CETESB às Vigilâncias Sanitárias Estadual e Municipal e ao DAEE, para que fossem lacrados os poços contaminados, revogadas as outorgas de direito de uso das águas subterrâneas e providas fontes alternativas seguras de abastecimento de água, pela SABESP ou outras fontes. Diante disso, o DAEE baixou a Portaria 1594, de 05 de Outubro de 2005, criando uma "Área de Restrição e Controle Temporário" da água subterrânea, em uma região mais abrangente do que aquela relacionada à ZUPI 131.

Em seu artigo 2º, a Portaria exige que os usuários que tiverem outorgas já emitidas nessa área, deverão apresentar ao DAEE análise da água de seus poços, de acordo com a Portaria 518 do Ministério da Saúde, sob pena de terem suas autorizações canceladas. Com base nestes dados concluiu-se que a área do aquífero com a qualidade comprometida, na região da ZUPI 131, possui uma extensão mínima de 1 Km de raio no entorno da Gillette, com indícios de ser maior, uma vez que já foi detectada alteração da qualidade da água em poços localizados no limite desta área (ZUPI 131).
Aquino afirma que, paralelamente, a CETESB vem avançando no gerenciamento das áreas contaminadas, exigindo dos responsáveis legais os respectivos diagnósticos, propostas e implantação de soluções
de remediação.

No cadastro de áreas contaminadas da Cetesb, já foram confirmadas contaminação em outras 16 áreas. "Estão sendo aplicados individualmente os procedimentos de gerenciamento de áreas contaminadas definidos pela Cetesb: investigação detalhada, avaliação de risco e implantação de medidas de intervenção", garante Aquino. Ele informa ainda que, no momento, a Cetesb está trabalhando, em conjunto com outros órgãos, visando a finalização do diagnóstico ambiental global da região. "O objetivo é definir as medidas necessárias para o gerenciamento regional do problema e definição das medidas de remediação a serem aplicadas para restabelecer a qualidade ambiental na região", afirma o engenheiro.

Contatada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Proctors and Gambles do Brasil afirmou apenas que todas as medidas sugeridas pela Cetesb estão sendo tomadas para solucionar o problema.


Principais impactos na saúde e no meio ambiente

Metal: Chumbo
Origem: indústria de baterias automotivas; de chapas de metal semi-acabado; de canos de metal; cable sheating; de aditivos em gasolina; munição; e de reciclagem de sucata de baterias automotivas para reutilização de chumbo
Impacto na saúde: prejudicial ao cérebro e ao sistema nervoso em geral; afeta o sangue, rins, sistema digestivo e reprodutor; eleva a pressão arterial. É considerado, ainda, um agente teratogênico, que pode acarretar mutação genética.

Metal: Cádmio
Origem: fundição e refinação de metais como zinco, chumbo e cobre. Os derivados de cádmio são utilizados em pigmentos e pinturas, baterias, processos de galvanoplastia, solda, acumuladores, estabilizadores de PVC, reatores nucleares
Impacto na Saúde: O cádmio é, comprovadamente, um agente cancerígeno, teratogênico e pode causar danos ao sistema reprodutivo.

Metal: Mercúrio
Origem: na atividade de mineração, no uso de derivados na indústria e na agricultura; e em células de eletrólise do sal para produção de cloro.
Impacto sobre a saúde: Intoxicação aguda, com efeitos corrosivos violentos na pele e nas membranas da mucosa, náuseas violentas, vômito, dor abdominal, diarréia com sangue, danos aos rins e morte em um período aproximado de 10 dias. Pode provocar, ainda, intoxicação crônica, que se manifestam por meio de sintomas neurológicos, como tremores, vertigens, irritabilidade e depressão, associados a salivação, estomatite e diarréia. A exposição a mercúrio leva a descoordenação motora progressiva, perda de visão e audição e deterioração mental decorrente de uma neuroencefalopatia tóxica, na qual as células nervosas do cérebro e do córtex cerebelar são seletivamente envolvidas.

Metal: Cromo
Origem: Curtição de couros e galvanoplastias
Impacto sobre a saúde: Dermatites, úlceras cutâneas, inflamação nasal, câncer de pulmão e perfuração do septo nasal.

Metal: Zinco 4
Origem: Metalurgia (fundição e refinação), indústrias recicladoras de chumbo
Impacto sobre a saúde: Secura na garganta, tosse, fraqueza, dor generalizada, arrepios, febre, náusea, vômito.
Fonte: http://www.greenpeace.org.br/toxicos/pdf/metais_pesados.doc
fonte:http://www.revistaagua.com.br/textos.asp?codigo=255

Nenhum comentário:

Postar um comentário